BLOG DO ANTÔNIO GOMES-PALÁCIO DE LETRAS 2-Blog destinado publicar contos e crônicas do autor;postar vídeos, documentários,filmes e atualidades. Nova Fase iniciada em 08 de maio de 2019. Sucessor do Blog Palácio de Letras.Teve mais de 350 Mil Vizualizações na 1ª Fase,entre 29 de junho de 2009 até 07 de maio de 2019.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2020
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
O "PAPAI NOEL" LADRÃO !
Era 23 de dezembro de 2014, noite fria e chuvosa nos arredores de Goiânia, GO,
e o Sr. José, o catador de papéis, empurrava tristemente seu carrinho pelas ruas,
já cansado e desanimado, pois naquele dia não conseguira juntar muitas caixas e
papelões como de costume. Além disso, estava chovendo há algum tempo e os papéis
e caixas que os comerciantes haviam jogado fora estavam se estragando, ou
estavam sendo carregados pela correnteza das águas da chuva.
Normalmente ele pegava muitas destas
caixas e papelões de embalagens, e era com a venda deles no quilo, que comprava
os mantimentos para sua casa. Em outras palavras, a venda destes papeis velhos
em um determinado comprador, era o seu ganha-pão. Era esse o seu trabalho e
com ele sustentava a mulher Maria e os três filhos menores.
E naquela noitinha, antevéspera do
Natal, em que ele já estava voltando para casa todo molhado, resolveu entrar num
boteco para tomar umas "pingas”, pois ninguém é de ferro! Tomou uns dois
goles de cachaça e voltou ao seu carrinho com papéis velhos, retomando o
caminho de sua casa. E apesar da chuva fina intermitente, o "clima"
era de Natal, com luzes coloridas pelas casas, nos postes, nos prédios.
De repente, ele parou em frente a um Supermercado,
destes maiores que, praticamente, são detentores do comércio dos bairros onde
se situam. Ele parou, e ficou vendo toda aquela fartura, com tantas coisas
gostosa à venda. Pessoas entrando e saindo com seus carrinhos de compras cheios,
colocando nos porta-malas dos carros. Crianças contentes com vários brinquedos
na mão.
Vê tudo isso só lhe fazia sofrer ainda mais, tal a sua pobreza e a sua
condição humana diante de tudo.
E naquele dia específico ele só tinha
no bolso alguns trocados, que lhe permitiria comprar o café e o leite que sua
cara-metade havia lhe pedido para comprar assim que saíra de casa. Mas, gastara
o dinheiro com as cachaças que tomou.
E assim, meio "grogue" pelas pingas que tomara, sentou-se na calçada deste supermercado, e diante de uma TV grande que estava na porta, começou a prestar atenção nos noticiários das 19:30 horas. Eram só notícias sobre corrupção, falcatruas de políticos, de empresários, crimes e outras coisas que viraram rotinas em nosso Pais.A roubalheira é antiga por aqui. Porém, o José, o catador de papéis, nada podia fazer. Afinal de contas ele era apenas um homem pobre, quase um pedinte.
E assim, meio "grogue" pelas pingas que tomara, sentou-se na calçada deste supermercado, e diante de uma TV grande que estava na porta, começou a prestar atenção nos noticiários das 19:30 horas. Eram só notícias sobre corrupção, falcatruas de políticos, de empresários, crimes e outras coisas que viraram rotinas em nosso Pais.A roubalheira é antiga por aqui. Porém, o José, o catador de papéis, nada podia fazer. Afinal de contas ele era apenas um homem pobre, quase um pedinte.
Ele agora estava a imaginar como iria
conseguir comprar os persentes que seus três filhos lhe pediram.
-Como iria fazer?
E ficou por um tempo, vendo a TV e pensando na vida. Mas, levantou-se e voltou ao seu caminho para casa. Estava pensando na bronca que iria levar da Maria, por não ter trazido o leite e o café. Chegou em casa e caiu em cima do colchão velho que estava à sua espera. Nem deu ouvidos às reclamações da “patroa”. Se entregou ao sono, apagou!
-Como iria fazer?
E ficou por um tempo, vendo a TV e pensando na vida. Mas, levantou-se e voltou ao seu caminho para casa. Estava pensando na bronca que iria levar da Maria, por não ter trazido o leite e o café. Chegou em casa e caiu em cima do colchão velho que estava à sua espera. Nem deu ouvidos às reclamações da “patroa”. Se entregou ao sono, apagou!
E ele dormiu até ás 10:00 hora da
manhã seguinte, que era 24 de dezembro, véspera de Natal. Acordou e se deparou
com a realidade nua e crua de sua vida, sem dinheiro para comida e para comprar
os presentes da patroa e dos "meninos". A Maria queria, pelo menos, comer um frango assado; o filho Thiago queria uma bola e uma chuteira; o João Paulo,
uma bicicleta, e a menina chamada Betânia queria roupas novas, pois, com 12
anos ela já tinha "enjoado" de bonecas.
-E agora José?
Ele ficou todo aquele dia a pensar e
"matutar" sobre sua vida, sua condição social. Depois de comer arroz
com ovo no almoço sentou numa cadeira velha na porta do barraco e ficou ouvindo um rádio de pilha velho. Notícias de esporte, de roubos, de crimes, estas coisas.
E os meninos brincando no terreiro e sempre lhe perguntando sobre os presentes,
se o "Papai Noel" iria lhe dar estas coisas. Papai Noel aqui
significaria presentes. E esse pobre José, que deveria ser o “Papai Noel”
deles, não tinha condição de comprá-los neste dia.
Árvore de Natal, frango para a ceia até aquela hora nada. E veio a noite,
com o José ainda calado, pensativo. A Maria tinha ido na casa de alguma
conhecida vê se ganhava alguma coisa.
De repente, lá pelas 8:00 da noite,
teve uma ideia. Iria sair dali e iria conseguir umas coisas de comer e uns
brinquedos para seus filhos. Iria pedir, claro. E pensava:
-Quem iria lhe negar, já que a
solidariedade das pessoas é maior nesta época do ano?
E saiu pela noite, com um saco de algodão cru vazio em uma das mãos.
Na primeira casa que pensou em pedir,
tocou a campainha e nada. Era uma destas casas de muros altos, cerca elétrica e
alarme. Ninguém atendeu. Andou mais, bateu palmas no portão e nada.
E assim andou por muito tempo pelas
ruas daquele bairro chique até se deparar com uma casa onde o portão da garagem
estava aberto e essa garagem dava para a sala da casa. Chamou, bateu palmas,
mas ninguém atendeu. Havia um barulho vindo de festa, música e conversa vindo
no fundo da grande casa, cujo terreno era maior ainda. E ele entrou na sala
daquela casa onde encontrou vinho, bolas, bonecas e até uma bicicleta.
-Seria o Milagre de Natal que tantos falam?
Tinha até uma roupa vermelha de Papai Noel. Só que todas aquelas coisas eram de outras pessoas. E na hora ele não pensou isto. Pegou tudo pôs no saco que tinha levado de casa e saiu sorrateiramente. Antes, porém, vestiu a roupa de Papai Noel e começou a pensar que ele tinha conseguido seu objetivo, presentear os filhos, pelo menos...
-Seria o Milagre de Natal que tantos falam?
Tinha até uma roupa vermelha de Papai Noel. Só que todas aquelas coisas eram de outras pessoas. E na hora ele não pensou isto. Pegou tudo pôs no saco que tinha levado de casa e saiu sorrateiramente. Antes, porém, vestiu a roupa de Papai Noel e começou a pensar que ele tinha conseguido seu objetivo, presentear os filhos, pelo menos...
Porém, alguém viu ele saindo dali e chamou a Polícia. Deu zebra, como dizem!
José foi preso em flagrante com aqueles pertences. Foi parar no Distrito
Policial.
E assim, em pouco tempo, o José, de
um simples catador de papel pobre que nem Jó, estava agora sendo “gozado” no
Distrito, pelos Policiais, sendo chamado de “Papai Noel Ladrão”. E o pior de
tudo é que, como foi preso em flagrante, só seria liberado se pagasse uma
fiança de, pelo menos, um salário mínimo.
E ele dormiu na cadeia naquela noite
de Natal.
E só no dia seguinte um agente foi até o seu barraco avisar à Maria, sua cara metade. Esta, foi se socorrer com uma senhora bondosa para qual ela arrumava a casa e passava umas roupas em dias alternados da semana. Esta senhora, D. Adelaide, foi o “anjo da guarda” da família. Pagou a fiança do José, levou todos para a casa dela para passarem o Natal e ainda deu roupas para todos e brinquedos para as crianças do catador de papel.
E mais, passado o Natal e Ano Novo, conseguiu vagas numa Escola Municipal para os filhos do José, e um emprego na chácara de seu filho, para que o José fosse morar e tomar conta da mesma.
-Ou seja, depois da tempestade, veio a bonança (*).
E de uma forma bem indireta e impensável, esse foi o "Milagre do Natal" para ele e sua família!
A.L.G -Reedição: 21/12/2020
E só no dia seguinte um agente foi até o seu barraco avisar à Maria, sua cara metade. Esta, foi se socorrer com uma senhora bondosa para qual ela arrumava a casa e passava umas roupas em dias alternados da semana. Esta senhora, D. Adelaide, foi o “anjo da guarda” da família. Pagou a fiança do José, levou todos para a casa dela para passarem o Natal e ainda deu roupas para todos e brinquedos para as crianças do catador de papel.
E mais, passado o Natal e Ano Novo, conseguiu vagas numa Escola Municipal para os filhos do José, e um emprego na chácara de seu filho, para que o José fosse morar e tomar conta da mesma.
-Ou seja, depois da tempestade, veio a bonança (*).
E de uma forma bem indireta e impensável, esse foi o "Milagre do Natal" para ele e sua família!
A.L.G -Reedição: 21/12/2020
......................................
(*) Conto original de Antônio Luiz
Gomes.
Parte integrante de meu livro “As Vítimas da Sociedade”, publicado em 1ª Edição pelo Clube de Autores (www.clubedeautores.com.br) e em 2ª
Edição pela Amazon.com ,em janeiro de 2019
Assinar:
Postagens (Atom)